Do estranho demônio do amor
Não faço poemas para o mundo
Sou dos poetas egoístas
Que escrevem para as gavetas
A quem basta, por meio dos versos, compreender-se.
E assim é que nesta manhã cinza
eu sento mais uma vez à janela
E espero, ao findar-te, poema,
Sair daqui mais sóbria, mais livre
Sem esta pulsão de torpor e sangue,
Que sendo vida demais quase me impede
de respirar sem sufocar-me
de dormir sem sobressalto
de comer sem enjoar-me
Eu... que nem mesmo olhava a paixão com olhos de cobiça,
Que vivia, soturna, uma planície infinda
de amores-amigos
Eu...que me vangloriava entre os amantes
De bastar-me do amor as grandes obras escritas
De, sendo poeta, ainda que egoísta,
bastarem-me as rimas inspiradas
em romances de outros...
Eu...que agora me vejo entre a mágoa e a míngua
Querendo do amor, comê-lo inteiro
Querendo de um homem sua carne, seu pêlo,
seu prazer e seu descanso.
Eu...Que sempre fui a leveza,
Quero mais do peso que faz curvar
Quero vê-lo em transe, em titubeio
Quero vê-lo cair, hesitar.
E quero tê-lo, por inteiro, nesta fraqueza,
Neste incessante desejar
Quero dar-lhe colo, quero sê-lo
Tanto que não se reconheça mais
fora de mim
Tanto que não sejamos
sem sermos dois
Tanto que eu lhe deseje matar
e matando-o de angústia, de medo e de amor
Ah... Eu reviva!
Ah... Eu possa voltar a respirar!
Tudo bem que as gavetas sejam lugares queridos e merecedores de nossa atenção, mas, querida amiga Ruiva, esta poesinha tem uns pedacinhos tão fortes, que ela não pode ser oferendada somente às traças! Compartilhe mais do que há nas tuas gavetas com estes outros animais aqui.. Beijos!
ResponderExcluirPois é carolinda... e sabe que o amor é assim mesmo pra mim? Ele não me lembra alegria leve, cores cândidas e cheiro de alfazema. Ele se aproxima dos sintomas da cólera, assim como para meu primo distante, o Garcia Marquez, heheh. Não é rosinha, mas rubro, sanguinolento, cheio de pulsões de morte. E pra ti? É assim também?
ResponderExcluirParabéns pelo Blog!
ResponderExcluirComo um vento chucro e quente...
Adorei!