segunda-feira, 28 de junho de 2010

Sub species aeternitatis - ou "Poesia de pó de estrelas"

Sub species aeternitatis  (com Demétrio Cherobini)


 I

Sou inteira, poeira estelar
mesmo estes pés, com que me aproximo,
estes olhos de sal com que te miro
hão de deixar-nos

Eu, amante do infinito,
já não creio no que não perdura
e renuncio, erma, a este olhar noturno com que me tentas
à tua pele, ao teu pelo âmbar
e sua transitoriedade

Quero de ti o que há de ficar:
a aura macia com que acolhes meu ser
a palavra com que me acaricias
o segredo da nossa comunhão

Quero de ti a lembrança do perfeito
a negação do tédio
a reinvenção do amor

Aceita de mim este pequeno gesto:
um afago na forma de poesia
com ele meus lábios,
meus gestos,
meus restos,
aceita essa carne, esse corpo, esse instante
celebremos juntos a estrela breve de nossas vidas!

II

Sim, renunciemos ao breve
ao mesmo tempo em que celebramos o breve:
gesto, jeito, gosto, resto, rosto,
o que é manifesto e o que está posto,
o que, em si mesmo, é leve
e se vai com o vento,
o que vive apenas um momento...

Celebremos corretamente
pois um banquete é mais
que a soma dos seus ingredientes
O que parado jaz
façamos com que se movimente
para que as paralelas ideais
possam tocar-se lá (ali) na frente...

É assim aos olhos do eterno:
o que é bruto se torna terno;
o que é feio se faz bonito;
o que é breve prova-se infinito...

E eu, amente do infinito, poeira estelar,
no que não dura, não creio.
Eu vejo o fim, ao ver o meio;
ao ver a gota, eu vejo o mar.
Coloco cada parte em ação:
mente, corpo, carne, coração...
e do que era um indecifrável modo
emerge um organizado todo.

....e para amar o todo em cada parte
será precisa algo mais que arte?

Nenhum comentário:

Postar um comentário